quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Acordei Mãe

Sou simples e prática nas expectativas que tenho comigo, nunca tive grandes pretenções, facilitei pra mim, depositei menos cobrança, vivi leve, recebi o que foi sendo dado, me senti agradecida, fiz boas escolhas e as poucos tenho realizado sonhos e alcançado a vida que imaginei pra mim. Qual é? vai dizer que quando criança, quando se deu por gente e começou a responder a pergunta que todos adoram fazer, O que você quer ser quando crescer? você não começou a planejar sua vida? A sonhar?
Eu queria várias coisas, tipo viajar pelo mundo, falar inglês, ser uma jornalista bem sucedida, assistir todos os filmes, ler todos os livros, ouvir todas as músicas, sair da cidade pequena onde nasci, me tatuar, me enxergava uma mulher imponente no auge dos meus 1,60. Por um acaso da vida eu tenho tido alguma dessas coisas, viajei, meu inglês é meia boca, me formei jornalista, me tatuei, não saí dos 1,60 e todos os dias tento bater minha meta de livros, filmes e músicas... Não foi tão intenso quando imaginei, outras coisas entraram no caminho, as coisas foram se moldando e meus sonhos mudando.
Não sei precisar o dia em que esse fato ficou claro, mas o fato é, eu tinha um novo sonho, eu queria casar, ser mãe e cuidar da minha família. Isso pra minha geração imediatista e cheia de expectativas é quase um pecado.
Me casei e em duas semanas estava grávida, e foi aí que eu, que nunca esperei nada de mim mesma, conheci um mundo de culpa e decepção.

Pra começar eu achei que acordaria grávida, que sentiria o momento da concepção do meu bebê e isso não aconteceu, aliás demorei quase 2 meses pra descobrir a gestação, alguns exames de farmácia deram negativo e só com com 8 semanas procurei uma médica, o que leva a outro ponto, mal tive sintomas, é bobo mas é verdade, temos uma idéia pré concebida de uma gravidez, recebemos isso durante toda a vida e quando não vomitei, não desmaiei, não tive desejos foi decepcionante.
Outra dura verdade, não chorei no primeiro US onde ouvi o coração do meu bebê, depois eu só podia pensar, eu quero tanto esse filho e nem consigo me emocionar, que mãe eu serei?
E quando me perguntavam qual eu sentia que seria o sexo do meu bebê? Eu não sentia nada, eu mal sentia que estava grávida! Sentir o bebê mexer ainda é raro. Só pensava que tinha alguma coisa errada comigo.
Hoje com 24 semanas minha barriga ainda é estranha, não é como a barriga que eu imagina para uma grávida, não sei se estou gorda ou grávida, vivo dando satisfação as pessoas, estou grávida, ando pela rua com a mão na barriga, estou grávida, não me culpem, não estou gorda, estou GRÁVIDA! Como se assim eu pudesse convencer a mim mesma.
E tem sido assim pelas últimas semanas, me tornando cada dia mais grávida, ainda não tenho muitos sintomas e agora ao invés de achar estranho eu agradecendo por isso, dêmos um nome ao feto- me lembro quando disse a palavra feto em uma conversa e muitos queixos caíram, que mãe chama seu filho de feto?- e cada dia ele parece existir mais e mais, vou me empoderando desse sentimento, vou compreendendo o que está acontecendo comigo, com meu corpo, com meu casamento. Hoje acredito que uma gestação dura nove meses não só para a formação do bebê mas também para a formação da mãe, não acorda se mãe, torna se mãe. Sei que é só o começo das culpas que sentirei durante minha vida como mãe, como mãe percebi que espero de mim, que tenho expectativas pois são para o meu filho, me tornar mãe tem despertado o melhor de mim. Do auge dos meus 1,60, de pés no chão, eu me empodero, eu cresço, percebo que tenho condições de realizar mais e mais de mim para meu filho.